É indiscutível o tanto que a década de 70 representou para a história da Cultura Pop do século XX - quase do mesmo tanto, ou mais, que os próprios anos 60 - "A Era dos Beatles!". Num mundo que, sequer era impossível sonhar em internet, havia uma revistinha que era "jóia" para fãs ávidos como eu por notícias dos seus ídolos. Nesse tempo, que hoje parece tão distante, havia uma revistinha mensal, publicada pela Editora Abril, que, de certa forma nos conformava com essas poucas notas. Era a "POP". Ou simplesmente a "Revista Pop". Ou, usando o nome formal, "Geração Pop". O Brasil, era supercarente de informação. Em tudo havia censura. Mas a revista insistia na teimosia de ser apenas informação para os jovens! E isso incomodava! É claro, falava de moda, skate, surf e outras tantas baboseiras... mas o grande enfoque era sempre o que estava acontecendo no mundo da música, do rock. Essa hoje "clássica" publicação, resistiu bravamente por 7 longos anos, entre 72 e 79. Teve seu final fatídico depois de 82 edições. Era cara, e em 1977, um "durango" como eu não tinha grana para acompanhar. Pois bem, certo dia, na casa de um amigo, estava lá a edição novinha que, na capa, tinha uma chamada para o "primeiro depoimento inédito" de Paul McCartney sobre o fim dos Beatles! Nem pensei duas vezes! Arranquei as páginas de forma carinhosa que achava que ninguém fosse perceber. E por mais de três décadas guardei e escondi o produto do roubo como se fosse um troféu! Olhando para o passado, percebo que foi um erro. Se tivesse pedido, ele teria me dado. Mas a emoção era muito maior! Quando ele finalmente percebeu que as páginas da sua revista haviam sido roubadas, nunca mais falou comigo! Achei justo! Como disse, é como um trófeu! Desculpe, Raimundo! Foi por uma boa causa. Tenho certeza que agora você entende! Valeu! Abração! Com carinho, especialmente para você: "AS CONFISSÕES DE PAUL MCCARTNEY"! Publicadas na "POP" de abril ou maio de 77. Infelizmente, não pude levar a capa!
Pela primeira vez, desde a dissolução dos Beatles, Paul McCartney conta tudo sobre o fim do maior grupo que a música pop já conheceu. De quebra, revela todos os lances do nascimento do Wings, suas certezas e inseguranças, num depoimento exclusivo ao jornal inglês Daily Express e à revista POP.“Eu nunca teria deixado os Beatles, se os outros músicos não o tivessem feito primeiro. Na época, as pessoas viviam me perguntando quando eu voltaria para o gupo. Mas, elas não sabiam que minha volta era impossível. Nenhum dos outros queria continuar.” “Na verdade, o grupo só sobreviveria se eu chegasse com o rabo entre as pernas e pedisse: ‘Por favor, rapazes, vamos continuar com a banda?’ E mesmo se eu resolvesse assumir essa posição humilde estaria arriscado a levar um sonoro NÃO ! pela cara. De qualquer modo, o que me magoa nesse período da história dos Beatles é que sempre saí responsabilizado pelo fim dos Beatles. E eu fui o último da banda a querer isso.” “Ringo foi o primeiro a deixar o grupo. Ele entrou numas que tocava bateria muito mal, e nós tínhamos que conversar com ele por horas a fio, tentando de toda forma convencê-lo do contrário. George foi o segundo a desistir, o que aconteceu durante as filmagens de Let It Be. Ele não conseguia ver futuro nos Beatles, talvez por estar entrando naquelas de mundo espiritual... Na semana seguinte, quando ainda tentávamos digerir a decisão de George, John entrou no escritório da Apple e lançou uma nova bomba, anunciando sua decisão de deixar os Beatles. Resolvemos esperar e ver se John mudava de idéia. Conversamos muito. Mas ele nunca mudou de idéia...” “Assim ao contrário do que sempre comentam, eu fui o último músico dos Beatles a aceitar a dissolução do grupo. Mas, vocês entendem, eu não poderia ficar chupando o dedo, à espera que John, George e Ringo decidissem voltar para o conjunto. Desse modo, resolvi formar o meu próprio grupo, mesmo sabendo que a parceria de John iria fazer uma imensa falta. Afinal, nós sempre ajudávamos um ao outro nas idéias musicais.” “Bolei o nome de Wings quando Linda estava no hospital, dando à luz a Mary. É claro que, nesse caso, a maioria dos pais estaria pensando no nome que daria ao filho: mas eu e Linda só pensávamos no nome do grupo o qual acabávamos de formar. Afinal, registramos os dois nomes (Wings e Mary) no mesmo dia. O sujeito do cartório, é claro, achou estranhíssima toda aquela confusão...”
“O grande problema dos Wings, no início, era a grande expectativa que todos tinham com relação ao grupo. Os Beatles começaram tocando para platéias, que esperavam muito pouco do nosso som. Desse modo, tivemos tempo para amadurecer e, finalmente, criar algo realmente bom. No caso dos Wings, porém, todo mundo queria ouvir ‘o novo grupo do Paul McCartney’, e não uma banda que estava apenas começando, em busca de uma personalidade musical. Para um grupo novo, o ideal é enfrentar platéias que não prestam muita atenção à música, dando oportunidade aos músicos para avaliar as reações da garotada. Mas nós nunca tínhamos oportunidade de errar no palco. Nossos erros eram detalhadamente apontados pela imprensa, que esperava de nós uma tola perfeição.” “As críticas negativas que recebemos no início foram duras de aceitar. As pessoas escreviam que a única saída para os Wings seria contratar John, George e Ringo. Escreviam que os LPs dos Wings eram ridículos e ingênuos. E, quando todo mundo começa a dizer que você é ruim, você começa a desconfiar do trabalho que está realizando..” Se eu fosse um músico em início de carreira, se o Wings fosse meu primeiro grupo na vida, até que as críticas seriam aceitáveis. Afinal, era o meu nome saindo no jornal! Mas quando você já esteve lá em cima, liderando a maior banda da música pop, as críticas começam a soar um pouco diferente.” “Um dos principais comentários da imprensa (e até dos amigos) era que Linda não possuía o menor nível musical para estar no Wings, como tecladista. O guitarrista Henry McCullough e o baterista Denny Seiwel, que iniciaram o Wings junto conosco deixaram o grupo por diferenças musicais com Linda. Diariamente, eles me diziam: ‘Paul, não leve a mal, mas linda não tem nada a ver com a gente’. E eu respondia sempre. É difícil explicar com palavras, mas sei que existe um bom motivo para Linda estar conosco. Todo músico tem que perder a sua ‘virgindade artística’, ou seja, o medo de se apresentar em público. No caso de Linda – reconheço – esse processo foi bastante doloroso. Lembro-me de uma noite terrível, durante um circuito universitário, que fizemos no início do grupo. Íamos tocar a música Wild Life e Linda deveria introduzi-la com quatro acordes de piano. Eu virei para o grupo e fiz a clássica: um, dois, três, já! Nada de piano... Olhei para Linda e ela me sussurrou: ‘Esqueci os acordes!’ Ainda bem que a platéia pensou que aquele lance tinha sido planejado por nós...” “Em 1973 nós buscávamos desesperadamente uma fórmula de sucesso para o Wings. Nas entrevistas, as pessoas só perguntavam sobre a volta dos Beatles, e eu já estava ficando cheio! Desse modo, decidimos gravar nosso LP seguinte em Lagos, na Nigéria, pensando que seria um bom refúgio espiritual. Na verdade, logo que chegamos lá fomos vítimas de assalto. Quatro sujeitos se aproximaram enquanto dávamos um passeio pelas ruas, e nos deixaram quase nus! Levaram tudo, desde o meu blazer inglês até as botas suecas de Linda. De qualquer modo, Band on the Run, o LP o qual gravamos lá, foi nosso primeiro disco de sucesso, vendendo mais de um milhão de cópias. A própria capa do disco é uma tentativa de representação do assalto. Depois de Band on the Run, o público passou a nos aceitar como uma grande banda de rock.” “Fazendo um balanço de sete anos de Wings, algumas revelações são realmente surpreendentes. Nos últimos dois anos, por exemplo, ganhei muito mais dinheiro que em todo o período em que os Beatles estavam vivos. Explica-se: durante os anos de ouro dos Beatles, nunca sabíamos a quantas andavam as nossas finanças. Aquele canalha do Allen Klein fez a cabeça de John, George e Ringo, jogando todos eles contra mim. Nos últimos anos os negócios da Apple eram simplesmente inacreditáveis: todos ganhávamos dinheiro, mas recebíamos salários bem pequenos. O resto ia para a empresa, em nome de um fundo que nunca chegamos a ver...” “Na verdade, nunca chegamos a ver um tostão de direitos autorais sobre tudo o que se inventou sob o nome Beatles: bolsos, chaveiros, perfume, perucas, talco, roupas, souvenirs e uma série interminável de coisas. Allen Klein detinha os direitos sobre tudo que levava o nome Beatles, e nunca nos deu uma prestação de contas a qual pudéssemos considerar como satisfatória. Essa situação só foi moralizada quando contratei o pai de Linda como advogado. Aí, tudo veio á tona, e George e Ringo me deram razão. Na verdade, John é o único que resiste a aceitar a realidade. Ele sempre foi um grande cabeça dura. Foi a partir desse ponto que nos tornamos amigos. E foi exatamente pela mesma razão que acabamos brigando...”
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